Nova Antena - Projectos "Ouro Negro"
Já tinha prometido apresentar uma entrevista de Outubro de 1970, em que o Duo, acabado de regressar do Japão, apresentava os seus projectos para o ano de 1971. Era incontornável na entrevista de Carlos Pina, não abordar o mítico LP "Blackground".
Regressado do Japão há bem pouco tempo, onde, segundo os próprios colegas, foi o êxito mais notado na feira de Osaka, o "Ouro Negro prepara a sua ofensiva para a próxima temporada.
Perderam os violões, as malas, actuaram no Japão com instrumentos alugados, fatos emprestados ou alguns "salvados" como, a brincar, nos dizia o Raúl.
Apesar de tudo, o "Ouro Negro" foi sucesso grande no Japão, e a música africana, de que maneira!...
. Agora há milhentas coisas para fazer.
Era necessário fazer qualquer pergunta:
- Sim, há muito trabalho a concluir em breve. Há, falando, primeiro genericamente, a gravação de um LP intitulado "Blackground", para mim a coisa mais séria que fizemos até agora, e outros EP como o da "Rainha Dona Amélia" e "Neusa".
. Mas o que realmente faz correr agora o "Ouro Negro" é o próximo lançamento de um LP que tudo indica venha a marcar uma fase nova para a renovada, arejada e sempre actual música africana.
- Nós estamos actualmente, e cada vez isto se notará mais, a fazer coisas com pés e cabeça, coisas muito sérias. Este Blackground", por exemplo, é a história da música africana, desde que saiu de África até que voltou, numa dimensão maior, com uma estrutura e modos diferentes.
. Mas essa música que saiu já voltou realmente a África!?...
- Sim, tem voltado em jazz, em espiritual, em pop inclusivamente. É disso que este disco vai tratar. "Blackground" é o "campo negro", na música, e vai ser um clássico africano, vai ser uma coisa como ainda não há sobre a música de África.
. E logo a seguir:
- Há a história da música africana, naturalmente, mas em género de biografia. Este LP vai ser uma retrospectiva, cantado em português e inglês.
.Mais um pormenor:
- "Blackground" inclui várias partes que se interpenetram, formando um todo. Tem, por exemplo, a história da escravatura; a criação de África; o nascimento de Iemanjá; como é que o homem começou a cantar; donde vinha o som; como foi o som, por exemplo, o rio que atravessou África e o mar e foi ter ao outro lado e ali, abrindo os braços, como nasceram outros rios, o Mississipi, o Missouri, o Amazonas, eu sei lá. Depois o homem africano que ia pelo rio e que cantava no leito e ouvia a resposta vinda já do outro lado "Don't take me by the river", mas já em blues.
Portanto é a história da música de África desde que saiu de lá até que voltou, agora em jazz, samba, afro, etc.
. Naturalmente, o meter ombros a tão arrojada empresa implica uma documentação, um estar dentro das realidades, um arcabouço particular.
- Naturalmente, mas o nosso maior trunfo é o grande conhecimento que temos de África e da sua música, primeiro porque somos africanos; segundo, porque temos uma responsabilidade muito grande; e terceiro, porque queremos deixar qualquer coisa de válido, pelo menos em música, à nossa terra, deixando para secundaríssimo plano essas coisas como "Marias Ritas", "Silvies", etc.
. Decididamente, portanto, virados para África?!...
- Sim. Aliás sempre estivemos. Simplesmente, de vez em quando, fazemos umas coisinhas assim para cá.
. Raúl acrescenta mais um pormenor da importência que diferencia a "nossa" música "Ouro Negro" da brasileira:
- Um dos caudais do "Blackground" é precisamente o rio brasileiro; outro é o ramo europeu, mas só no que diz respeito ao ritmo, a "pop-music"; outro, ainda, um dos mais importantes, aliás, é o ramo americano, a música dita branca: a junção, por exemplo, do "espiritual-folk", "soul-music", etc.
Como sabe, há muito que se processa um retrocesso da música americana para África, chamado o "afro"...
. Muito mais se falou...
Nova Antena, 2 de Outubro de 1970
2 Comments:
Já tenho livro de visitas
:-)
http://rafricanos.no.sapo.pt/ritmosafricanos.html
Caro Ó
Gostaria de entrar em contacto consigo por causa das pinturas do Raúl Indipwo.
Cpts
D.
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